O Dia da Mentira, celebrado em 1º de abril em muitos países ao redor do mundo, é uma ocasião em que as pessoas fazem brincadeiras, muitas vezes enganosas, com amigos e familiares. Elas variam desde pequenas mentiras inocentes até elaboradas farsas planejadas com antecedência. O elemento surpresa e a diversão estão no cerne dessa tradição.
Apesar dos “trotes” divertidos, a data chama a atenção para um comportamento do ser humano, mas também pouco conhecido para além do básico: a mentira. Conforme o pós-PhD em neurociências e membro da Royal Society For Neuroscience, Dr. Fabiano de Abreu Agrela, a mentira, apesar de ser algo comum, quando em excesso e de maneira descontrolada, pode indicar outros problemas.
“A mentira é um comportamento mental normal do ser humano. Ela envolve vários processos cerebrais, como o controle da linguagem e a tomada de decisão. No entanto, seu uso excessivo ou patológico pode indicar problemas, como transtornos de personalidade ou psicológicos”, explica.
Como o cérebro processa a mentira
Para mentir, o cérebro de uma pessoa utiliza diversas áreas para formular a mentira e mascará-la, explica o Dr. Fabiano de Abreu Agrela, autor do artigo “Mitomaníaco: como lidar com crianças que mentem o tempo todo”.
“Para contar uma mentira, o cérebro passa por diversas etapas. Primeiramente, o córtex pré-frontal, ventromedial e orbitofrontal, responsáveis pela análise de valores, decidem omitir fatos e optar por algo mais favorável, nessa etapa a pessoa opta por mentir”, explica.
Em seguida, o mestre em psicologia explica que, para formular uma mentira que pareça real, o lobo temporal examina memórias, emoções e imagens visuais, “enquanto o córtex cingulado anterior exerce autocontrole e o lobo frontal adiciona racionalidade à história. Essas regiões trabalham em paralelo para utilizar trechos da verdade para montar uma mentira mais crível.”
No final, para fazer a mentira parecer verdade, o profissional explica que o córtex cingulado anterior é ativado, “controlando o sistema límbico relacionado à culpa e potenciais sinais de nervosismo, em uma tentativa de esconder sinais físicos da mentira.”
Transtornos mentais por trás da mentira
A mentira, quando usada de forma muito excessiva e constante, pode indicar uma série de transtornos, que devem ser analisados por um profissional de saúde para ser realizado o tratamento adequado. Isso porque transtornos de personalidade, como narcisista, borderline ou antissocial podem ter a mentira constante como um sintoma, indicando um padrão de comportamento disfuncional, utilizado para manipulação, obtenção de ganhos pessoais ou para encobrir sentimentos de inadequação.
Além disso, existe um transtorno específico que envolve as mentiras, a mitomania. Ela é um distúrbio psicológico marcado pela compulsão de mentir de forma recorrente e sem motivo aparente. Indivíduos com essa condição costumam inventar histórias elaboradas e fantásticas, sem considerar as consequências.
Identificando uma mentira
A habilidade de discernir a verdade das mentiras é muito complexa. Todavia, a cognição do avaliador é fundamental para isso; quanto mais desenvolvida, mais fácil se torna identificar uma mentira, afirma o Dr. Fabiano de Abreu.
Abaixo, confira algumas dicas para conseguir identificar uma mentira com base na neurociência!
1. Inconsistências verbais e linguagem corporal
Observar a linguagem e o comportamento é essencial. Inconsistências verbais, mudanças na voz e uma linguagem corporal que denota nervosismo são indicativos clássicos.
2. Detalhes da narrativa
A narrativa do mentiroso costuma ser marcada pela falta ou pelo excesso de detalhes, e pelo uso frequente de qualificadores que indicam incerteza.
3. Microexpressões e comportamento incongruente
As microexpressões, rápidas e quase imperceptíveis, revelam emoções verdadeiras que a pessoa tenta ocultar. Comportamentos e expressões faciais que não correspondem às palavras faladas são também sinais importantes.
4. Conteúdo da história
Narrativas improváveis ou excessivamente dramáticas, não plausíveis ou que colocam o narrador em uma luz muito positiva ou vitimosa, podem ajudar a identificar a mentira.
Por Adriana Quintairos
Fonte: Jovem Pan Read More