O futuro se constrói hoje. A esperança de um futuro melhor precisa envolver a população jovem, porque sua ação irá afetar a sociedade. Desajustes e problemas diversos relacionados aos adolescentes deram origem à Campanha Mundial pela Prevenção do Suicídio, conhecida como Setembro Amarelo e endossada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em função do crescente número de suicídio entre os jovens.
Os jovens precisam ser cuidados de forma eficaz para evitar a inaceitável perda de vidas ou o desvio de comportamentos que tornam o jovem um problema social. Há uma condição vulnerável em função da fase complexa de desenvolvimento que a adolescência representa. É um período que se alterna entre ter o desejo imperioso de ser admirado e a sensação de ser diferente e rejeitado.
Confira 6 cuidados para que a família e a escola consigam ajudar os jovens a cuidar da saúde mental:
1. Cuidado com as críticas
Hoje os próprios pais estão estressados, com excesso de atividades e, no pequeno momento de encontro com os filhos, precisam cobrar uma organização que, em geral, não se encontra nos adolescentes. Ou seja, na primeira troca de olhares é possível identificar uma lista de críticas sobre coisas esperadas que não aconteceram: você está pronto para ir ao compromisso? Pegou o material que precisa levar? Guardou o que tirou do lugar?
A troca de farpas começa imediatamente, sem chegar a um reconhecimento de erro, causando dos dois lados irritação e distanciamento que aumentam a cada dia. O que fazer? Se algo não está como você esperava, não critique – pense uma coisa boa para falar. Buscar algo de positivo é a atitude oposta e que faz bem para os dois lados.
Pense o que você pode dizer de bom, sem que isso signifique concordar com o que não está bom. Por exemplo, não diga: desligue esse celular porque senão eu vou tirar de você! Você terá que ficar repetindo a mesma ameaça indefinidamente, e ele só entende que você não o compreende ou não o aceita. É melhor combinar os horários em que o uso do celular não vá atrapalhar as atividades.
2. Cuidar do sono
O ritmo dos adolescentes não corresponde ao esperado pelo resto da família, pois eles têm um relógio biológico diferente. A necessidade de tempo de sono deles é maior do que a do adulto. Há mudanças no ritmo circadiano dos adolescentes. Não é preguiça, nem apenas o uso do celular ou os amigos que não dão sossego, os únicos responsáveis pelas alterações do sono da adolescência.
O ritmo circadiano (sono – vigília) tem culpa nisso: os jovens sentem sono bem mais tarde que as demais faixas etárias, devido a um atraso natural na curva de melatonina. E se alguém não dorme bem, os problemas são mais graves do que a maioria das pessoas imagina. A privação de sono interfere no humor, na atenção, na aprendizagem, no desempenho, ou seja, em todo o comportamento.
Discussões antes de dormir pioram o quadro. Além disso, nada de levar ansiedade para a cama. Estimular uma leitura leve e/ou uma música suave, contribui com a sensação de calma e pensamentos agradáveis, que garantem um sono tranquilo. E um gostoso “boa noite” dos pais, abençoando as perspectivas desejadas, gera a segurança e a calma que o adolescente tanto precisa.
3. Atividades físicas e alimentação equilibrada
As atividades físicas liberam hormônios da alegria, que também dependem de boa alimentação. Como liberar os hormônios da felicidade? Os quatro hormônios são, na verdade, neurotransmissores, substâncias químicas liberadas naturalmente pelo cérebro, com funções específicas e que exercem um trabalho especial na comunicação entre as células nervosas. Veja a seguir:
Endorfina – é o analgésico natural do organismo. Ajuda a amenizar situações difíceis e estresse.
Como ativar: rir com pessoas queridas e especiais, cantar, dançar, fazer atividade física, trabalhar em equipe e praticar hobbies.
Alimentos que auxiliam: piperina (presente nas pimentas), sementes de abóbora, aveia e chocolate com pelo menos 70% de cacau.
Serotonina - conhecida como “hormônio da satisfação e bem-estar”, é a substância que torna sua vida mais positiva, faz a regulação das emoções, do sono, do bom humor, do apetite e até mesmo da libido. Aumenta a sensação de vitalidade e disposição.
Como ativar: desfrutar da natureza, tomar sol, praticar atividade física, namorar, criar momentos felizes e especiais, ser grato pelo que tem e ouvir músicas agradáveis.
Alimentos que auxiliam: banana, cacau, leite e derivados, feijão, lentilha, cereais integrais, ovos, couve-flor, brócolis, abacate, peixes (especialmente sardinha e salmão).
Dopamina : promove a motivação no dia a dia. Atua sobre as emoções e a atenção. Aumenta a motivação. Conhecida como “mediadora do prazer”.
Como ativar: praticar de exercícios físicos diários.
Alimentos que auxiliam: beterraba, grão-de-bico, aveia, linhaça, laranja, maçã, banana, abacaxi.
Oxitocina: conhecido como “hormônio do amor”. É responsável pela sensação de confiança que auxilia na criação de laços, promovendo sentimentos de calma, união social e bem-estar.
Como ativar: ser gentil/generoso, abraçar alguém, fazer massagens e cafuné, acariciar seu bicho de estimação, meditar e praticar mindfulness.
Alimentos que auxiliam: oleaginosas, avelã, amêndoas, castanhas.
4. Envolvimento positivo
Os adolescentes precisam de rumo. E dependem muito do grupo que os rodeia. A família tem, portanto, um papel essencial, num envolvimento positivo para saber quando estão precisando de ajuda. O adolescente pode ser um alvo fácil de bullying, porque ele sente vergonha de não corresponder ao que o seu grupo determina como desejável e a família pode ser o contraponto nessa aceitação de si mesmo ou na percepção de suas qualidades.
Verificar mudanças no comportamento é necessário e conversar é indispensável. Estimular os estudos, por exemplo, funciona mais do que repreensão e, frequentemente, é necessário ajudar para chegar a resultados diferentes no que ele não está conseguindo. Por exemplo, a matéria em que o jovem não se sai bem, acaba sendo evitada e o resultado ficará cada vez pior, num círculo vicioso.
É importante acompanhar, saber sobre os amigos, sobre preferências, sobre as opiniões que tem de diversos assuntos de seu dia. Para saber ouvir, não podemos antecipar julgamentos. A Inteligência Emocional consiste em fazer com que a pessoa analise a situação, o que é mais importante do que “obedecer” porque ele entende o que precisa fazer.
Desenvolver valores e princípios consistentes ajuda a valorizar o esforço pessoal como mérito e não como perda de tempo, mas para isso, os pais precisam estar ao lado, sabendo como o jovem se sente, o que sonha, o que considera importante.
5. Atenção ao cuidar
Uma lágrima pode ser um indicativo de que seu filho está precisando de sua companhia para voltar a ficar bem. Um abraço carinhoso, um olhar compreensivo, uma palavra amiga são valiosas atitudes em relação ao filho. A segurança e o amor que ele encontra em casa o tornará forte para enfrentar as dificuldades e sentirá orgulho em vencer.
O vazio que leva o jovem ao desespero e à desesperança não acontece se ele receber o acolhimento no ambiente familiar. Outra questão importante: se pais ou filhos estiverem nervosos, ou os dois, os pais devem respirar fundo antes de abordar o problema, pois dará tempo para redimensionar a questão e pensar em alternativas. Todas as emoções existem, são normais e saber lidar com elas é o segredo de viver bem, transformando-as em vez de se tornar refém delas.
6. Parceria entre a escola e a família
A escola também é o ambiente preparado para ajudar os jovens para alcançarem seus sonhos. É importante a construção de competências: planejamento, organização, funções cognitivas de tomada de decisão – saber pensar, resolver, escolher… Tudo isso também acontece no ambiente escolar.
É preciso o envolvimento dos pais e professores sobre o aprimoramento dos recursos nos cuidados com os jovens. Estar atento ao alcoolismo e ao uso de drogas, porque podem representar uma forma de “esquecer” os problemas e a atuação destas substâncias no cérebro modifica o estado de consciência.
Promover habilidades socioemocionais, evitando o acontecimento de bullying ou agressões de qualquer espécie e, principalmente, buscar a identificação precoce, como chance de evitar a tragédia de perder alguém que não recebeu a proteção que precisava.
Por Luiza Elena L. Ribeiro do Valle
Psicóloga e Mestre em psicologia escolar e educacional. Organizadora, com Maria José Viana Marinho de Mattos, do livro “Adolescência – As contradições da idade” – Wak Editora
Fonte: Jovem Pan Read More