Boa parte dos brasileiros, em algum momento da vida, já tomou remédio por conta própria, isto é, sem consultar um médico, seja para aliviar a dor de cabeça, reduzir uma febre, combater os sintomas de um resfriado ou de qualquer outro problema de saúde.
Uma pesquisa realizada pelo Conselho Federal de Farmácia mostrou que a automedicação é um hábito comum no Brasil. Isso porque 77% das pessoas afirmaram se automedicar em algum momento. No entanto, especialistas alertam que as consequências desse uso indiscriminado de medicamentos podem ser bem sérias para a saúde.
“Todo medicamento possui efeitos colaterais e, se for ingerido de forma incorreta ou se ele não for adequado para o problema do paciente, pode fazer mais mal do que bem”, explica Gabriela Kozuchouski, professora de Farmácia da UniSociesc, instituição privada de ensino superior de Santa Catarina.
Cuidado com os remédios para emagrecer
As mulheres são as que mais usam medicamentos por conta própria, 53% fazem isso pelo menos uma vez ao mês. Familiares, amigos e vizinhos são os principais influenciadores na escolha dos medicamentos usados sem prescrição, em cerca de 25% dos casos. Os dados são de pesquisa realizada pelo Conselho Federal de Farmácia.
Na busca por quilos a menos, por exemplo, muitas vezes lançam mão dos chamados remédios “naturais” para desintoxicar e emagrecer, que podem ser comprados sem receitas médicas. E é aí que mora o perigo.
“Muitos podem não ter qualidade ou eficácia. Alegam benefícios sem comprovação científica. O emagrecimento por meio de medicamentos deve ser falado com muita cautela. Até porque nosso corpo já tem um sistema natural de desintoxicação, por meio do fígado e dos rins. Então, o uso de medicamento pode ser, muitas vezes, enganoso e causar efeitos”, reforça Gabriela Kozuchouski.
Consequências do uso inadequado de medicamentos
De acordo com o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas, cerca de 30 mil casos de internação são registrados por ano no Brasil devido à intoxicação por uso de medicamentos.
Os analgésicos, antitérmicos e anti-inflamatórios estão entre os que mais intoxicam. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) calcula que 18% das mortes por envenenamento no Brasil podem ser atribuídas à automedicação, e 23% dos casos de intoxicação infantil estão ligados à ingestão acidental de medicamentos armazenados em casa de forma incorreta.
A seguir, confira outros problemas que podem ser causados pela automedicação:
1. Intoxicação
O uso incorreto de medicamentos, incluindo doses excessivas ou inadequadas, pode levar à intoxicação. Isso pode resultar em uma série de efeitos adversos, desde a ineficácia do tratamento, sintomas leves até complicações graves, incluindo overdose. É crucial seguir as instruções de dosagem e consultar um profissional de saúde se houver dúvidas.
2. Mascarar sintomas da doença
Alguns medicamentos de venda livre proporcionam alívio temporário dos sintomas, como a febre ou a dor. No entanto, a redução desses sinais pode mascarar a gravidade da condição. É importante estar ciente de que o uso desses remédios não substitui a avaliação médica adequada para um diagnóstico correto da doença.
3. Reação alérgica
Ingerir medicamentos sem prescrição médica aumenta o risco de reações alérgicas ou não esperadas no organismo. Mesmo que um medicamento seja considerado seguro para a maioria das pessoas, pode haver indivíduos sensíveis a certos ingredientes. É essencial estar ciente dos sinais de uma reação alérgica e procurar ajuda médica imediatamente se ocorrerem.
4. Interação medicamentosa
O uso de medicamentos sem orientação médica pode aumentar o risco de interações medicamentosas prejudiciais, ou seja, o risco de um remédio reagir em contato com outro que a pessoa usa. Alguns medicamentos podem potencializar ou neutralizar os efeitos de outros, resultando em efeitos colaterais indesejados ou redução da eficácia do tratamento.
“Agora, se o paciente relata todos os problemas de saúde e medicamentos usados no dia a dia, o médico saberá apresentar a melhor solução para o caso”, explica a professora. Por isso, consultar um profissional de saúde antes de iniciar qualquer novo medicamento é fundamental para evitar interações perigosas.
5. Resistência ao medicamento
O uso indiscriminado de certos medicamentos, como antibióticos, pode contribuir para o desenvolvimento de resistência microbiana. Isso ocorre quando os microrganismos se tornam menos suscetíveis aos efeitos dos medicamentos, tornando o tratamento de infecções mais difícil.
“Os microrganismos se acostumam com ele [remédio] e o medicamento não funciona como o esperado, podendo até levar à morte. Não é à toa que as superbactérias estão cada vez mais comuns”, enfatiza Gabriela Kozuchouski. Por isso, utilizar medicamentos apenas quando necessário e conforme prescrito é essencial para prevenir o aumento da resistência antimicrobiana.
6. Falência hepática
Alguns medicamentos podem ter efeitos adversos no fígado, especialmente quando usados de forma inadequada ou por períodos prolongados. A falência hepática é uma complicação grave que pode resultar do dano hepático causado por medicamentos. É crucial seguir as instruções de dosagem e evitar o uso excessivo de medicamentos para proteger a saúde do fígado.
Por Genara Rigotti
Fonte: Jovem Pan Read More