Por que você trabalha na atual empresa? Quando alguém lhe pede indicação para um novo emprego, você a recomenda? Geralmente, a resposta a essas duas perguntas está relacionada aos benefícios que são oferecidos aos funcionários, como salários e convênios. Porém, antes de esses fatores entrarem na equação, existe um questionamento-chave que deve ser levado em consideração: você se sente bem no meu ambiente de trabalho?
Uma pesquisa da Microsoft levantou que, em 2021, 18% das pessoas pediram demissão quando perceberam que a rotina de trabalho não estava mais alinhada com suas prioridades — e não acaba aí: um levantamento da Gallup deste ano também apontou que 44% dos colaboradores em empresas ao redor do mundo se sentem estressados no dia a dia corporativo. Sendo assim, um bom ambiente de trabalho previne que problemas, tanto de saúde quanto pessoais, afetem os funcionários e a empresa.
Para Fernando Sapata, diretor de pessoas, cultura e encantamento na Select Soluções, empresa que oferece soluções utilizando a tecnologia cloud da Amazon Web Services, pensar sobre o próprio bem-estar no trabalho causa uma certa familiaridade com o conceito de encantamento em uma empresa.
“Quando um funcionário se sente pertencente à empresa em que trabalha, podemos dizer que ele está encantado. Em outras palavras, os ideais pessoais estão alinhados aos da corporação, resultando em um ambiente proativo e harmonioso. Trata-se, portanto, de um lugar que trata seus colaboradores não como mão de obra, mas como seres humanos, com suas próprias necessidades, individualidades e sonhos”, explica.
O que significa encantar funcionários?
O encantamento está intrinsecamente ligado ao trabalho interno da empresa, voltado ao seu ecossistema e à humanização do colaborador. É um branding corporativo pensado nos funcionários, capaz de traduzir e comunicar a eles as práticas e os valores da corporação; os resultados dessa prática, obviamente, são sempre positivos.
“Para que possa encantar, um líder precisa ver o liderado como ser humano. Qual é o sonho dessa pessoa? É papel de um bom gestor encontrar meios para fazê-lo acontecer. O melhor exemplo disso está na promoção de funcionários: em vez de oferecermos somente aumentos e benefícios, pensamos em como alinhar os nossos processos para oferecer oportunidades que estejam alinhadas com esse sonho pessoal do colaborador, com isso fazemos com que ele se sinta pertencente à equipe”, diz o especialista.
De acordo com ele, outra possibilidade é trazer o time geral para decisões importantes para a empresa. “Isso pode acontecer em reuniões de criação e implementação de produtos, não focando as decisões apenas no parecer do time técnico — todos os funcionários têm experiências valiosas que podem ser aproveitadas durante reuniões. Afinal, todas as pessoas da corporação, independentemente de sua função dentro dela, serão impactadas pelo sucesso do produto depois de implementado”, ressalta Fernando Sapata.
Atitudes que encantam no mercado de trabalho
É preciso transformar a empresa em um local na qual as pessoas se sintam valorizadas pelo que são, e não necessariamente pela função que exercem. Abaixo, o especialista lista as principais dicas para alcançar esse objetivo. Confira:
1. Adote ferramentas para medir o nível de encantamento
Segundo o profissional, o principal meio de medir o nível de encantamento e, consequentemente, a satisfação dos funcionários é aplicar pesquisas do tipo NPS (Net Promoter Score), sempre levando em consideração o anonimato das pessoas. “É importante que esses questionários tenham uma frequência regular e elevada, a fim de que os gestores possam visualizar e trabalhar com mais facilidade os fatores que receberam uma nota baixa”, conta.
2. Oriente o time executivo da empresa
A importância de ouvir o feedback dos avaliadores e entender suas experiências é fundamental para o sucesso de qualquer empresa. Em um cenário competitivo, é crucial adotar estratégias que promovam a melhoria contínua. Nesse contexto, Fernando Sapata destaca a relevância de uma abordagem proativa na gestão do NPS.
“É necessário estabelecer um responsável do time executivo para entrar em contato pessoalmente para entender o que aconteceu em caso de nota baixa. Deve-se levar em consideração os três tipos de NPS: colaborador, cliente e parceiros. Quando uma pessoa se dispõe a investigar e entender o feedback negativo ‘direto da fonte’, a empresa consegue se preparar melhor para mitigar os pontos negativos que os avaliadores encontram nos serviços prestados”, orienta.
3. A empresa deve fugir apenas do básico
A relação entre a empresa e seus colaboradores é fundamental para criar um ambiente de trabalho saudável e produtivo. Em um mundo corporativo em constante evolução, valorizar os funcionários configura um fator essencial para garantir sua motivação e engajamento.
“Pagar o salário em dia e tratar seus funcionários com sensibilidade é o mínimo do mínimo em qualquer ambiente corporativo. Quanto mais a corporação mostrar que está atenta às necessidades de seus colaboradores, maiores as chances destes de demonstrarem satisfação em relação ao ambiente de trabalho”, alerta o diretor de encantamento da Select.
4. Estabeleça uma boa comunicação com os funcionários
De acordo com o profissional, existem algumas alternativas que podem ser adotadas por grandes empresas para que todos os colaboradores sejam alcançados. Veja:
Ter um canal de comunicação direto para tratar de variados assuntos e um canal anônimo para denúncias dentro da corporação;
Traçar objetivos, de forma estratégica, sobre como funcionam determinados setores da empresa;
Investir em multiplicadores, ou seja, mostrar ao funcionário o que é o processo e o que ele deve/pode esperar do encantamento.
“Esses são alguns métodos para espalhar a cultura do ambiente de trabalho e incentivar que ela seja adotada e seguida pelos demais funcionários, formando o pilar do encantamento”, complementa Fernando Sapata.
5. É um mito dizer que executivos não têm tempo para treinamento
Embora os executivos tenham agendas lotadas, o treinamento eficaz pode ser adaptado para se encaixar em seus horários. “Isso pode incluir treinamento online, sessões de treinamento mais curtas e flexíveis ou, até mesmo, coaching individualizado. Quem realmente quer se aprimorar no que faz consegue encontrar o modo ideal de treinamento, mesmo em meio a agendas ocupadas”, comenta Natal Pinto, fundador e CEO da InMerc (escola de negócios).
6. Considere eventos e organizações de network
Conforme explica Mara Leme Martins, PhD e vice-presidente do BNI Brasil, a participação em eventos sociais da empresa e de programas de networking fora da empresa, mesmo que virtuais, é fundamental no que diz respeito ao crescimento profissional, “pois serão oportunidades valiosas para interagir informalmente com colegas de profissão e fortalecer vínculos pessoais. O uso de redes sociais ou de ferramentas de comunicação interna é grande aliado nessa jornada”.
7. Foque o aperfeiçoamento da experiência do cliente
Atualmente, oferecer uma experiência de atendimento ao cliente de alta qualidade é crucial para o sucesso de qualquer empresa. Por isso, deve-se adotar ferramentas que melhorem a interação com os clientes em múltiplos canais.
“Ferramentas ajudam a criar uma experiência de cliente contínua e de alta qualidade em todos os canais de comunicação, especialmente para empresas que usam aplicativos de mensagens, como WhatsApp e Telegram”, explica Luiz Felipe, gerente de atendimento da Leste Telecom.
Segundo ele, enquanto os ‘robozinhos’ fazem triagem dos problemas e redirecionam o cliente para a área específica, os atendentes humanos têm mais tempo para praticar escuta ativa. “Além disso, um atendimento mais rápido, às vezes até instantâneo, gera uma visão muito positiva da marca”, esclarece.
8. Saiba em qual setor aplicar a tecnologia
Para Eduardo Freire, CEO e estrategista de inovação corporativa da FWK Innovation Design, é preciso analisar e entender que nem todos os setores de uma empresa precisam de tecnologia. “Aqueles que mais se beneficiam das inovações trazidas por essa ferramenta estão relacionados ao cerne do negócio, como operações, atendimento ao cliente e desenvolvimento de produtos e serviços”, pontua.
9. Mantenha-se atualizado e siga integrando a tecnologia a seu trabalho
A transformação digital está redefinindo a maneira como as empresas operam, tornando a tecnologia um componente essencial em todos os setores. Nesse novo cenário, a inteligência artificial (IA) surge como um elemento central, evidenciando a necessidade de adaptação rápida e contínua.
“Até ontem, o ditado era que ‘toda empresa é uma empresa de tecnologia’; agora o discurso vai na linha de que ‘toda empresa de tecnologia é uma empresa de IA’. Independentemente de qualquer hype do mercado, fica claro que a tecnologia se tornou algo universal nas empresas e entre seus colaboradores. Os profissionais de hoje precisam o mais rápido possível estar preparados para adquirirem essa ‘fluência digital’ para não ficarem para trás durante a transformação digital e os mais complexos processos de inovação”, ressalta Eduardo Freire.
10. Conheça sobre a Geração Z no mercado
Diante de um mercado dinâmico e em constante mudança, a Geração Z (com pessoas nascidas entre 1995 e 2010) cultiva expectativas e enfrenta desafios muito diferentes de seus líderes millennials e boomers. “Boa parte dessa ‘galerinha’ já ingressou ou está se preparando para ingressar no mercado de trabalho”, comenta Mari Galindo, fundadora da Nice House (plataforma de entretenimento com foco em vídeos verticais e Geração Z):
Segundo ela, o número de profissionais da Geração Z deve ultrapassar o de boomers (nascidos entre 1946 e 1964) nas empresas ainda em 2024, de acordo com o site Glassdoor. “Por um lado, enquanto a Gen Z traz, em sua bagagem, várias habilidades importantes para o cenário econômico atual, sobretudo a fluência digital, ambição por experiência e conhecimento e uma espantosa (no bom sentido) capacidade de adaptação; por outro, sua entrada em peso no mercado de trabalho preocupa gestores e recrutadores de empresas”, explica.
Mesmo que, algumas vezes, a contragosto de recrutadores e gestores, é extremamente importante que as empresas invistam nos mais jovens. “Ignorar o potencial que eles possuem não é o ideal para nenhuma empresa — em alguns anos, eles serão maioria no ambiente corporativo, ultrapassando até mesmo os millennials em números. Investir na Gen Z vai além dos benefícios para as empresas; ele é o fator principal para que tenhamos, hoje e cada vez mais, um mercado de trabalho mais inclusivo, dinâmico e resiliente”, conclui Mari Galindo.
Por Maria Carolina Rossi
Fonte: Jovem Pan Read More