Casos recentes de violência contra a mulher viraram manchetes em todo o Brasil por se tratar de pessoas famosas. As apresentadoras Patrícia Ramos e Ana Hickmann denunciaram seus então parceiros por agressão. Elas fazem parte das 25.458.500 mulheres que declararam, neste ano de 2023, já terem sofrido violência doméstica e familiar ao menos uma vez na vida. Isso equivale a 30% das brasileiras.
Mas é a minoria, que, como Patrícia e Ana, denuncia o responsável. Das mulheres que sofreram violência em 2023, 61% não procuraram uma delegacia, enquanto, de janeiro a outubro, 1.127 feminicídios foram registrados no país. Os números são do novo Mapa Nacional da Violência de Gênero, projeto que é uma parceria do Senado Federal, Instituto Avon e Gênero e Número para disponibilizar dados atualizados e abertos sobre a violência de gênero.
O que faz com que tantas mulheres continuem se calando diante da violência doméstica? A psicóloga e mentora feminina Najma Alencar aponta a dependência emocional com relação ao agressor como um forte fator de silenciamento. “As mulheres também não foram ensinadas a identificar os sinais de um relacionamento abusivo. Muitas nem sabem que violência não é apenas física, mas pode ser também sexual, psicológica, moral ou patrimonial“, ressalta.
Identificando a dependência emocional
Najma Alencar costuma fazer 12 perguntas às suas pacientes para ajudá-las a identificar se há dependência emocional em uma relação. Quanto mais respostas “sim”, maior é a dependência. Veja:
Você sente necessidade de consultar o seu parceiro para tudo o que faz?
Você é incapaz de aproveitar os momentos em que está sozinha?
Sua felicidade depende exclusivamente do seu parceiro e não consegue suportar a ideia de um término?
Você se afastou dos amigos e da família desde que começou essa relação?
Você não se atreve a tomar a iniciativa em nada e não expressa sua opinião por medo de desagradá-lo?
Qualquer atividade que você faz sem ele é chata e monótona?
Você já se fez de vítima para chamar a atenção dele?
Sua vida não tem sentido sem ele?
Você vive com medo dele ir embora?
Você acha que tem muita sorte de alguém tão incrível querer ser seu parceiro?
Você é muito ciumenta?
Você perdoaria uma traição para não terminar o relacionamento?
Superando a dependência emocional
Segundo Najma Alencar, superar a dependência emocional começa por entender o que a faz se sentir assim, pois por trás de toda dependência existe um medo que a sustenta. Fazer terapia é imprescindível para esse processo de cura, e a psicóloga trata esses casos trabalhando os 3A’s com a paciente: autocrítica, autoestima e autonomia.
“Ao perceber que o outro ocupa um lugar muito grande dentro de você, o que você pode fazer para se preencher de si?”, indaga a profissional. “Essa é uma pergunta importante e muito eficaz para iniciar. Você pode experimentar uma caminhada sozinha, ir a um café sozinha, ler um livro no silêncio, criar hábitos que fortaleçam sua espiritualidade e tantas outras formas de se descobrir”, recomenda.
Sinais de comportamentos abusivos
Quanto à identificação de uma relação abusiva, outras questões entram em jogo. De acordo com a psicóloga, a mulher deve perceber um padrão de desequilíbrio de poderes no relacionamento e táticas manipuladoras.
Quando um homem é abusivo, ele costuma impor restrições à mulher (como sair para se divertir, conversar com os amigos e visitar os familiares), mentir compulsivamente e punir a mulher quando ela o desagrada, de várias formas: dando o tratamento de silêncio, humilhando-a, diminuindo suas conquistas, ameaçando-a e a agredindo, seja verbal ou fisicamente.
Procure por ajuda
“Ao menor sinal de abuso, a mulher deve procurar ajuda”, alerta Najma Alencar. “Seja em uma Delegacia da Mulher ou com alguém de confiança”. O telefone 180, por exemplo, é da Central de Atendimento à Mulher, um serviço criado para o combate à violência contra a mulher.
Além disso, nesse momento, o apoio do confidente, da família e dos amigos é essencial para que a mulher agredida pelo parceiro se sinta acolhida e tenha coragem para sair dessa relação. “Ela precisa sentir que tem uma rede de apoio; do contrário, as chances de a violência doméstica aumentar são grandes”, comenta a psicóloga.
Por Milka Veríssimo
Fonte: Jovem Pan Read More