Sri preethaji, filósofa e líder transformacional indiana, esteve em São Paulo para guiar os participantes do Field of Awakening (Campo do Despertar) e reservou alguns minutos para conversar com Vida Simples. Em teoria, a cofundadora da Ekam Oneness – escola de filosofia, meditação e transformação pessoal, localizada no sul da Índia – tinha pressa, pois precisava retornar do intervalo e falar por mais uma porção de horas.
No entanto, aquela mulher descalça, trajando túnica, echarpe e calça brancas, era a personificação da calma. Indiferente à pressão dos ponteiros, suas palavras flutuavam, tamanha a suavidade do seu jeito de se expressar. O conteúdo, porém, não poderia ser mais profundo e atual.
Sri Preethaji está conectada às descobertas da neurociência, no que diz respeito ao funcionamento da mente e à busca por uma vida plena. E, como herdeira da tradição védica, faz a ponte entre os avanços da ciência contemporânea e a sabedoria milenar hindu.
O que ela quer é que a gente desperte para a realidade interior. Se há um lugar garantido para a paz, afirma a filósofa, ele se encontra no silêncio da mente que se une à Inteligência Universal. Desse elo brota a compreensão mais ampla de como podemos acessar um estado de amor, vitalidade e abundância. E, com isso, ser um ponto de luz na teia planetária.
O que a sabedoria védica preconizava milênios atrás e hoje é comprovado?
A ciência está desvendando um monte de coisas relacionadas ao cérebro. A neurobiologia está descobrindo, por exemplo, a glândula pineal, que os sábios hindus afirmavam há milênios se tratar do chakra agnya, um vórtex de energia semelhante a uma flor de lótus de duas pétalas: um lado é a Lua, a energia feminina, lunar; o outro, o Sol, a energia masculina, solar. Os cientistas descobriram que essa glândula de dia libera serotonina, ligada ao bem-estar, e, à noite, produz melatonina, associada ao sono.
De que maneira os sábios hindus relacionaram a glândula pineal à espiritualidade?
Eles também tinham conhecimento de que o despertar desse chakra produz a plenitude ou êxtase. Os cientistas estão chamando isso de “a partícula de Deus” ou de DMT, produzido quando a glândula pineal está totalmente ativada. Mas os mestres hindus vão além, explorando muitos níveis de consciência para dimensões de iluminação e ensinando as pessoas a chegarem a esses lugares para acessar diversos estados diferentes de consciência. Nisso a ciência ainda não chegou.
Para que mudanças profundas aconteçam em nossa vida, o que precisa ocorrer no nível da consciência?
Para que uma pessoa tenha transformações significativas, precisa dissolver a separação, a divisão, o sofrimento e o conflito e despertar a paz, a conexão e a unidade. Quando a consciência se transforma desse modo, você tem como resultado grandes realizações na vida.
Como superar a identificação com comportamentos que nos fazem sofrer?
O caminho é o da iluminação, composto de cinco estágios. Primeiro, ser consciente. Por exemplo, você sabe que não pode fazer mal para alguém, e aí você não o faz. Segundo, perceber seu estado interno. Depois vem a transformação do coração. Por fim, o despertar da consciência e a iluminação.
Qualquer pessoa pode alcançar a iluminação?
Sim. Por meio de sabedoria, práticas, processos, meditações e deeksha, que é a transferência da energia. Quando alguém está vivendo em um estado elevado de consciência e transfere a energia divina, isso impacta a consciência do outro e o ajuda a passar pelos cinco estágios citados.
Tudo isso junto faz com que você deixe de estar em conflito, com uma mente dividida, para atingir um estado de paz, de conexão e unidade. Antigamente, para buscar a iluminação, era preciso se retirar para as montanhas. Hoje, não. Tudo isso é ensinado para as pessoas que levam uma vida normal no mundo.
Como podemos nos fortalecer perante um cenário desolador como o atual?
O ser humano foi quem criou todos esses problemas que estamos enfrentando no mundo. Eles não vieram dos insetos, dos animais, da natureza ou da maneira como ela funcionava. Os seres humanos precisam ter as suas consciências transformadas, pois, a partir do momento em que existirem pessoas vivendo em estados mais elevados de consciência – portanto, mais liberados do sofrimento –, o mundo poderá ser transformado.
A evolução da consciência individual afeta de quais maneiras o coletivo?
Vou fazer uma analogia: para um lago congelar, uma gotinha de água congela, depois a outra e assim por
diante. Nesse ritmo, seriam necessários vários invernos para que um lago ficasse completamente congelado. O que ocorre na natureza é um fenômeno chamado fase de transição.
Quer dizer que, quando um determinado número de gotas fica congelado, todo o lago congela de uma vez. O mesmo ocorre com seres humanos. Quanto mais pessoas despertarem a consciência, isso vai criando um efeito em cadeia que impacta todo mundo.
Pode citar uma prática como exemplo?
A Soul Synk consiste em uma meditação composta de seis etapas. No decorrer de cada uma, você vai desenvolvendo um estado de calma, de conexão e de expansão da consciência. Ela realmente modifica o estado do cérebro. E aí, no final, você firma uma intenção, que, quando é colocada de maneira sincera dentro de um campo de consciência expandida, se manifesta na vida. Ela também treina o cérebro para dissolver o sofrimento.
Muitas pessoas estão infelizes, sentindo-se impotentes, como superar esse estado?
As pessoas estão vivendo com extremo estresse porque buscam resultados externos: ser bem-sucedida, famosa, ter boas relações. Como se isso fosse trazer a realização. Muitas até conseguem certas conquistas, mas, por dentro, estão sofrendo, vazias, sentindo-se solitárias. É o mundo interior que precisa ser cuidado. Você pode realizar as coisas externas, mas a partir de um belo estado interno de conexão. É preciso olhar e ver o que está havendo dentro de você.
Por Karla Dunder – revista Vida Simples
Fonte: Jovem Pan Read More