No distante ano de 1902, no King’s College Hospital, em Londres, o que hoje chamamos de TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) fez sua primeira aparição na literatura médica, descrito, então, como um “defeito do controle moral”. Entretanto, foi somente em 1980, com a publicação da terceira edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-III), que o TDAH foi formalmente reconhecido. Apenas na edição do DSM-5, em 2013, é que ele recebeu as definições atuais.
Uma jornada com TDAH antes do DSM-5
Nasci em 1971, trazendo comigo as marcas típicas de uma criança com TDAH. Contudo, naquela época, o diagnóstico era desconhecido, e tratamentos específicos, como medicamentos ou terapias, não estavam ao alcance de uma família de recursos limitados no interior, de maneira que minha inquietude, dificuldade de concentração e desempenho escolar insatisfatório levavam a previsões pessimistas sobre meu futuro acadêmico.
O poder da crença de uma mãe
Mas minha mãe, Adelma, era diferente. Ela via além, acreditando em um futuro promissor para mim, apesar das dúvidas alheias. Mesmo quando eu comecei a duvidar de mim mesmo, ela permanecia firme em sua convicção. “Eu conheço meu filho, ele vai mais longe do que vocês pensam”, dizia.
Sua crença não era infundada; ela enxergava em mim qualidades como carisma, criatividade, sociabilidade e resiliência – atributos frequentemente ignorados pela sociedade e pelo sistema educacional da época.
Em vez de pressionar por excelência acadêmica, ela me encorajou a encontrar meu próprio caminho para o aprendizado. Foi só após o lançamento do livro Inteligência Emocional, por Daniel Goleman, em 1995, que aprendemos sobre a importância de habilidades emocionais e sociais, aquelas que minha mãe intuitivamente valorizava e cultivava em mim.
Legado do amor
O bem mais transformador que ela me ofereceu foi amor – um amor generoso que ela mesma não recebera na mesma medida. Por isso, nesta coluna de março, honro a primeira mulher da minha vida, sem a qual eu não seria quem sou.
O amor que recebi de minha mãe e de minha esposa, Janine, é minha fonte de inspiração e segurança. À minha mãe, ecoo os versos da música “Dona Cila”, de Maria Gadú: “De todo o amor que eu tenho, metade foi tu que me deu, salvando minha alma da vida, sorrindo e fazendo o meu eu”.
Por Rossandro Klinjey – revista Vida Simples
Psicólogo, escritor, palestrante, cofundador da Educa. Nesta Egotrip, as turbulências são passageiras.
Fonte: Jovem Pan Read More